Pra onde vais Ribeirão
Mauro Pereira
Pra onde vais ribeirão?
Rolando sempre sozinho.
Sempre no mesmo caminho
Que há muito cavas no chão!
Vendo-te assim cabisbaixo,
No fundo de tantas grotas,
Pergunto a ti — pois me importa:
Pra onde vais, meu riacho?
Já não tens água bastante
Para inundar nas enchentes.
Secaram teus afluentes
Pescaram teus habitantes.
Não mais escala as ameias,
Pra ver o mundo cá fora!
Ele está tão feio agora
Que se o vires pranteias.
Ribeirão, tu já nem vais!
É um poço aqui outro lá!
Às vezes nem corres mais,
Pois não os consegue emendar!
Ribeirão! não podes ser
Assim tão desapegado!
Embora o que te é tomado
O tempo vai requerer!
Dia virá, não demora!
Barragens, pontes, pinguelas...
Por não mais precisar delas,
Contigo irão embora!
Encostas, de alto a baixo,
Vão escorrer pro teu leito,
Mas essa dor no meu peito,
Pra onde vai meu riacho?!
Uberaba-MG, 01/02/2018
Corrego Mataburro