CAPOEIRÃO
Mauro Pereira
Capoeirão das ravinas!
Berçário, onde os olhos-dágua,
choram águas cristalinas,
que vão encher as aguadas.
De árvores cheias de limo,
e fungo orelha-de-sapo!
Cobertas dos pés ao cimo,
com barba-de-bode e mato
Capoeirão já cançado!
De cercas desengonçadas.
De arames enferrujados
Que já não cercam mais nada.
Uns fios bambos no chão,
outros, já numa rodilha,
pendurados num moirão,
pra evitar armadilhas.
Do casarão centenário,
que filmado e demolido
partiu pra outro cenário
e lá ser reconstruído.
Num alto, mais afastado,
com a manjarra carcomida,
velho engenho abandonado,
a quem ninguém quis dar vida.
Da tralha que teve um dia,
resta uma canga-de-coice
e uma canga-de-guia.
O resto da tenda foi-se!
Para tua alegria
veio de ti o sustento,
para Joca e Maria
e os filhos do casamento.
Tem coisa que não se foi!
Que não saiu do teu lado:
O velho carro de boi,
Que espera pronto e calado.
P/ Joca e Quita - Brasilia, 01/02/2019