O encontro
Mauro Pereira
Surgiu veloz, como quem tem urgência.
Num Maverick de cor amarela.
Da cor do ouro e dos cabelos dela.
De pé me pus, curvando em reverência.
Desceu com muita classe e pouca pressa.
—Talvez... e só, pra bangunçar os fios —
Deu um meneio suave de cabeça.
Lançou um olhar à volta e saiu.
Atento a tudo avaliei as chances,
Naquele andar que em mim deu arrepio.
No lance do cabelo uma nuance
entre o que ela olhou e o que viu.
Mas logo se perdeu entre os passantes.
Zonzo, fiquei ali, com o bamboleio
daquele corpo, que soltou meus freios
e fêz-me esperar por bons instantes.
Ao cabo enfim, de alguns longos minutos!
(Como os minutos de quem está por um fio)
Ela surgiu de novo no reduto,
tão bela ou mais do que quando saiu.
Eu que ficara a esperar a volta,
Como leoa ao espreitar gazela,
Sem desviar o meu olhar da rota,
Voltei à Terra e fui falar com ela.
A rouca voz, a boca sensual,
num misto de canção e de sorriso,
Ficava entreaberta dando o aval,
enquanto perscrutava meu juízo.
Falamos sobre nós... O tempo urgia.
Os nossos afazeres a premir.
E havia tanta coisa que eu queria
dizer antes de ver ela partir!
Falamos de trabalho e sobre filhos...
Sobre encontros futuros...seus locais.
Quem foi ou inda estava em nossos trilhos.
E algumas confidências pessoais.
Deixamos pra depois gostos e agruras.
E ainda que o desejo conspirasse
para abraços e afagos, a candura
do encontro impôs, que esperasse.
Nos dias que seguiram, percebia
que entre almas irmãs e tão diversas,
A realidade em nossos dia-a-dia,
Mostrava ser pra nós, linda e perversa.
Teria aquele amor em si a gana
Para transpor o vão de duas mil milhas?
Das praias calientes às coxilhas
nas bordas da fronteira castelhana?
E fomos cada um ao seu destino,
Levando cada qual sua parcela
de frustração, de dor e de cautela.
Pensava ter-me dela esquecido!
Mas hoje, quatro décadas passadas,
ressurge à beira-mar minha sereia.
Sem Maverik! Só o sol... a areia...
e a rouca voz dessa mulher amada.
Brasília, 22/06/2019
. Para Elenita Rangel Calleia
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